Favas à moda do meu pai
Comer tem sido para nós, humanos, muito mais do que uma actividade para nutrir o corpo. Comer é um ritual.
Quando semeamos a terra, já iniciamos a refeição. Quando regamos e esperamos por ver a semente germinar, já imaginamos o sabor e os risos que se juntarão à mesa. Quando acompanhamos o amadurecer da planta, do fruto, da baga, da semente, cresce-nos um contentamento visceral que chega ao auge na colheita.
Tradicionalmente, as colheitas são acompanhadas de cantares, de convívio, de alegria, de muito trabalho, mas um trabalho gratificante, especialmente se aquilo que colhermos for destinado à nossa refeição ou à partilha. Oferecer vegetais, frutas, sementes, da nossa própria horta para que outras pessoas os saboreiem é ainda mais gratificante do que comê-los nós mesmos. É uma oferenda do contentamento de ver crescer e uma partilha do momento do ritual da refeição.
Toda a preparação da refeição é um pújá, é retribuição, é gratidão à terra que fez crescer, ao sol que adocicou, às nossas mãos que colheram, aos insectos, aos ventos, às chuvas. É um pújá também à familia, aos amigos, a quem comer o cozinhado, é o nosso amor, é a alquimia dos sabores, dos cheiros, uma experiência sensorial, tudo isso é oferecido de coração. A nossa energia, e a energia da Terra, irão nutrir o corpo de outra pessoa, dando-lhe mais saúde, dando-lhe felicidade.
Quando uma pessoa come só, a comida tem menos sabor do que se comer com o coração cheio. E nesta altura, em que vivemos todos afastados uns dos outros, por várias razões, encontrar uma forma de recuperar o ritual, nutre ainda mais do que comer realmente o alimento.
Eu moro longe da minha família, e a minha família mora longe de si mesma, cada um em cada sítio. Longe.
Hoje trago-vos uma receita tradicional da minha cidade, Lagos, no Algarve, e as favas usadas nesta receita (na fotografia) foram cultivadas no quintal da casa onde cresci, pelo meu irmão, e cozinhadas pelo meu pai, na Alemanha, que tirou fotografias e me enviou. Assim, tão longe uns dos outros, participámos numa refeição que apenas um comeu, mas que todos sentiram o sabor.
A receita foi "veganizada" pelo meu pai, a partir da receita do livro Cozinha Tradicional Portuguesa, de Maria de Lurdes Modesto.
Os ingredientes:
- Favas tenras e frescas.
- Azeite
- 2 dentes de alho
- 1 chouriço de soja
- cebola picada
- ramo de coentros
- sal, pimenta, cominhos q.b.
- cerveja ou vinho
O procedimento:
1 - Fazer um refogado com azeite, alho com casca e chouriço de soja.
2 - Retirar o chouriço do refogado e adicionar a cebola picada.
3 - Temperar com sal, pimenta e cominhos.
4 - Juntar um pouco de cerveja (ou vinho).
5 - Juntar coentros e deixar mais um pouco.
6 - Juntar as favas e mais coentros.
7 - Deixar cozinhar até as favas estarem macias (mais ou menos 30 minutos).
Acompanhar com arroz branco e salada de alface.
Espero que se juntem a esta mesa, para comermos juntos. Bom apetite!
Que lindo Marta 💖 adorei o texto e as sensações. Quase que senti o sabor das favas.
ResponderEliminarQuando era pequena odiava favas até que um dia, já adulta, me permiti voltar a comer e adorei!
Na nossa família, também temos uma tradição com as favas.
Todos os anos a minha mãe faz só para mim um tacho de favas versão Vegan e eu adoro eheheh
Há duas refeições ni ano que são as minhas preferidas: a da consoada, sem bacalhau é claro, e em Abril a das favas da minha mãe ❤️
Fico muito muito feliz que tenha gostado :) Obrigada <3
EliminarA experimentar. Adoro favas 😋😋😋😋💖
ResponderEliminarApesar de não ser apreciador de favas, o teu texto quase que apetece comer 😋
ResponderEliminarDepois dessa descrição maravilhosa qualquer pessoa que não goste de favas fica com vontade de as comer. Eu adoro!! Obrigada pela receita
ResponderEliminarEspetacular, Marta! Adoro favas. Lindo post :))))
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