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segunda-feira, 12 de abril de 2021

Música e Filosofia


 
A Música tem sido tema de debate filosófico desde os gregos antigos até aos dias de hoje. Era uma parte importante da cultura grega antiga, desde cerimónias religiosas, poesia e teatro, até usos militares e educação. A música, para os filósofos gregos, fazia parte da sua metafísica; uma parte de como pensavam que o universo estava estruturado. Eles deixaram um registo substancial das suas ideias sobre música, muitas das quais ainda fazem parte da nossa cultura de hoje. Estes filósofos escreveram numa série de estilos, desde livros sobre as práticas de fazer e compreender a música (o que hoje chamamos de teoria da música), a livros sobre a natureza do universo e os efeitos da música (o que hoje chamamos de metafísica, ou apenas filosofia). Pensava-se que a música poderia afetar o ethos de uma pessoa (comportamento ou ética) porque era governada pelas mesmas leis que o universo e assim poderia influenciar outros reinos, tanto físicos como invisíveis.
 
Esta crença de que a Música pode influenciar o comportamento é primeiro apresentada por Platão na sua República, um tratado no qual ele descreve a maneira de criar um estado ideal. Neste importante tratado, Platão declara que o poder que a música tem para influenciar o comportamento de uma pessoa é tão forte que os líderes da república só devem ser autorizados a ouvir certos tipos de música, os quais aumentarão a sua coragem e honestidade. A música que pode perturbar a ordem social deve ser banida da república e a cada estrato da sociedade são permitidos diferentes tipos de música, a fim de encorajar certos aspetos do seu caráter. Para Platão, a música tinha o poder de despertar certos estados emocionais em humanos. Tinha esse poder porque a música em si era uma imitação dos sons que fazemos nesses estados emocionais.
 
Aristóteles, depois dele, tinha um conceito semelhante do poder musical para influenciar os nossos estados emocionais. Mas, para Aristóteles, era assim porque a música representava essas emoções em si mesmas, não apenas as maneiras pelas quais expressamos essas emoções. Uma pessoa ouviria música e o seu estado emocional alinhar-se-ia por simpatia com o da música.

À medida que a nossa compreensão do mundo e do lugar da música nele evoluiu, os argumentos filosóficos relativos à música também se transformaram. Ao longo da Idade Média, perdeu-se o foco filosófico e a Música era considerada apenas um meio para um fim, na ajuda ao louvor e adoração de Deus. Quando a música reapareceu como um tópico filosófico, no final do Renascimento, havia muitos conceitos semelhantes às filosofias gregas primitivas, menos o envolvimento estrutural no universo. A partir desse momento, uma grande revolução nos nossos pensamentos sobre o propósito e o funcionamento da música ocorreu a cada duzentos anos ou mais.

Durante a era barroca, acreditava-se que as emoções eram sentidas como resultado do movimento de certos espíritos no corpo. A música que correspondia aos movimentos dos espíritos para uma emoção particular poderia fazer com que os espíritos do ouvinte se movessem da mesma forma, fazendo com que essa emoção fosse sentida. Certos gestos melódicos ou traços rítmicos tornaram-se formas padrão de comunicar cada emoção. Acreditava-se que a música era uma ferramenta útil e ouvir o equilíbrio certo das emoções na música era pensado para manter a alma em equilíbrio e encorajar a saúde mental e física.

A expressão do estado emocional interior do artista só passou a ser o objetivo da música a partir do século XIX, com o Romantismo.
 
Com a publicação de Arthur Schopenhauer (1788-1860), «O mundo como vontade e ideia», a importância da música entre as artes mudou radicalmente. Schopenhauer postulou que o universo era, em última análise, uma Vontade. Ele considerava a música a arte proeminente porque poderia representar mais de perto essa Vontade. Ao fazer isso, pode, obviamente, representar outras coisas, como emoções humanas. Isto difere das conceções platónicas e barrocas anteriores de emoção na música, em que esta imitava essas emoções, enquanto para Schopenhauer ela representa essas emoções. Além disso, embora a música possa expressar as emoções das quais é representativa, ela não faz necessariamente com que o ouvinte sinta essas emoções.
 
As teorias de Schopenhauer fornecem suporte filosófico para uma tendência que já se estava a tornar bastante estabelecida na época da publicação do seu livro.
 
No final do século XIX, o escritor e crítico musical Eduard Hanslick (1825-1904) argumentou que o propósito da música não é fazer-nos sentir uma certa emoção e também não é seu propósito representar emoções. Para Hanslick, a música é o propósito da música, a sua forma é o seu conteúdo e não emoções. Para ser claro, Hanslick não descartou a possibilidade de que a música pudesse despertar certas emoções em certas pessoas, mas sentiu que tal ocorrência não era o propósito da música e muitas vezes poderia ser explicada como resultado de outras coisas.
 
Filosofar sobre música não parou por aí, é claro. Na verdade, em meados do século XX, o interesse pelo tópico ressurgiu consideravelmente. O tema atualmente é amplo, dada a explosão de géneros musicais e a facilidade com que a música existe no nosso quotidiano. Os filósofos ainda estão a tentar explicar a natureza do conteúdo emocional da música e de que maneira ele pode afetar-nos. As respostas que eles constroem podem ter um impacto considerável em como entendemos o significado da música nas nossas vidas, na verdade, em como entendemos a música.


Pela minha parte, como compositor e produtor musical, situo-me mais perto das ideias de Hanslick. Quando componho, não tenho como objetivo consciente exprimir esta ou aquela emoção, este ou aquele estado de alma. Vejo a música mais como uma envolvência, um estabelecer de paisagens sonoras que te enlevam e transportam através delas.

Deixo-vos aqui uma faixa do meu disco Nostalgia, como exemplo. De certeza que, a inspirar emoções no ouvinte, cada um as vivenciará de acordo com a sua personalidade, mas também com o seu passado, componente muito importante para se analisar o presente.





Como vês tu toda esta questão? O que é para ti a música e como te relacionas com ela? Deixa o teu sentir nos comentários. Obrigado.