domingo, 18 de abril de 2021

YAM SUNDAYS

 Favas à moda do meu pai


Comer tem sido para nós, humanos, muito mais do que uma actividade para nutrir o corpo. Comer é um ritual.
Quando semeamos a terra, já iniciamos a refeição. Quando regamos e esperamos por ver a semente germinar, já imaginamos o sabor e os risos que se juntarão à mesa. Quando acompanhamos o amadurecer da planta, do fruto, da baga, da semente, cresce-nos um contentamento visceral que chega ao auge na colheita. 

Tradicionalmente, as colheitas são acompanhadas de cantares, de convívio, de alegria, de muito trabalho, mas um trabalho gratificante, especialmente se aquilo que colhermos for destinado à nossa refeição ou à partilha. Oferecer vegetais, frutas, sementes, da nossa própria horta para que outras pessoas os saboreiem é ainda mais gratificante do que comê-los nós mesmos. É uma oferenda do contentamento de ver crescer e uma partilha do momento do ritual da refeição.

Toda a preparação da refeição é um pújá, é retribuição, é gratidão à terra que fez crescer, ao sol que adocicou, às nossas mãos que colheram, aos insectos, aos ventos, às chuvas. É um pújá também à familia, aos amigos, a quem comer o cozinhado, é o nosso amor, é a alquimia dos sabores, dos cheiros, uma experiência sensorial, tudo isso é oferecido de coração. A nossa energia, e a energia da Terra, irão nutrir o corpo de outra pessoa, dando-lhe mais saúde, dando-lhe felicidade.

Quando uma pessoa come só, a comida tem menos sabor do que se comer com o coração cheio. E nesta altura, em que vivemos todos afastados uns dos outros, por várias razões, encontrar uma forma de recuperar o ritual, nutre ainda mais do que comer realmente o alimento.

Eu moro longe da minha família, e a minha família mora longe de si mesma, cada um em cada sítio. Longe. 

Hoje trago-vos uma receita tradicional da minha cidade, Lagos, no Algarve, e as favas usadas nesta receita (na fotografia) foram cultivadas no quintal da casa onde cresci, pelo meu irmão, e cozinhadas pelo meu pai, na Alemanha, que tirou fotografias e me enviou. Assim, tão longe uns dos outros, participámos numa refeição que apenas um comeu, mas que todos sentiram o sabor.

A receita foi "veganizada" pelo meu pai, a partir da receita do livro Cozinha Tradicional Portuguesa, de Maria de Lurdes Modesto.




Os ingredientes:

- Favas tenras e frescas.

- Azeite

- 2 dentes de alho

- 1 chouriço de soja

- cebola picada

- ramo de coentros

- sal, pimenta, cominhos q.b.

- cerveja ou vinho


O procedimento: 

1 - Fazer um refogado com azeite, alho com casca e chouriço de soja.

2 - Retirar o chouriço do refogado e adicionar a cebola picada.

3 - Temperar com sal, pimenta e cominhos.

4 - Juntar um pouco de cerveja (ou vinho). 

5 - Juntar coentros e deixar mais um pouco.

6 - Juntar as favas e mais coentros.

7 - Deixar cozinhar até as favas estarem macias (mais ou menos 30 minutos).


Acompanhar com arroz branco e salada de alface. 

Espero que se juntem a esta mesa, para comermos juntos. Bom apetite! 








sábado, 17 de abril de 2021

Share & Care Saturdays

Olá a todos! Preparados para mais um sábado de partilhas?

Hoje vamos novamente fazer uma viagem, desta vez até à região Oeste do nosso país. Vamos até ao Baleal. 

A ideia de viajarmos até ao Baleal surgiu a partir de fotografias que a nossa querida aluna Graduada, e também bloguer, Cláudia Florêncio Novais, nos enviou aquando da sua estadia nesta zona.




O Baleal é uma pequena península que se situa na zona Norte de Peniche, na região Oeste. 

Sabes de onde vem a origem do seu nome? Baleal! No passado eram pescadas muitas baleias e atuns nesta zona, daí ter ficado batizada com o nome de Baleal. Já sabias esta curiosidade?

Pois é, o nosso país está cheio de sítios incríveis que podes visitar e todos eles com uma grande riqueza histórica, não fossemos nós um país com mais de 800 anos de existência. 

O Baleal é ainda conhecido pelas suas praias de areia fina e branca, pelo enorme potencial ao nível dos desportos náuticos, mas também pelo seu clima por vezes mais fresco. Uma excelente zona para passear, respirar ar puro e contemplar toda a Natureza envolvente.



Ficaram com vontade de conhecer ou de voltar ao Baleal?

Quais são os vossos sítios preferidos e que sugestões no dão?

Continuação de um excelente fim-de-semana e boas viagens.

Bárbara Ribeiro (basi.yoga)

sexta-feira, 16 de abril de 2021

BRIGHT FRIDAYS

 O código de Ética do Yôgin - os 5 Niyamas


A aluna graduada Cláudia Florêncio proporcionou-nos, com muito amor, uma sexta-feira extraordinária no dia 9 de Abril. Com a sua comunicação naturalmente poética conduziu-nos através dos 5 niyamas, tocando o coração de todos os presentes, convidando a uma partilha genuína das vivências de cada um. Foi sem dúvida um momento de profunda aprendizagem.


Como vimos na semana passada, os yamas conduzem o yôgin na reflexão sobre a sua existência no mundo numa perspectiva direccionada para o exterior, indicando preceitos importantes para uma melhor relação com os outros (e com o mundo como um todo), partindo de dentro para fora.

Os niyamas são prescrições éticas que direccionam o yôgin para o seu próprio interior, pois só com auto-estudo podemos perceber quem somos e como podemos conviver connosco próprios. É de mão dada com o nosso purusha, o nosso self, que encontramos a união com o Universo. 


imagem de: https://www.sootra.yoga/yoga-page/yamas-amp-niyamas


Os 5 niyamas constinuem o segundo passo do yôga de Patañjali e são eles:


1 - Sauchan é limpeza, purificação, não só externa mas também interna. Esta purificação interna é feita através da prática de kriyás, cuidado alimentar, eliminação de substâncias intoxicantes, gestão emocional e meditação.


2 - Santosha é contentamento, é cultivar a sensação de satisfação com a vida, com o momento presente, com o nosso percurso e tudo o que este nos traz, e também contentamento para com os outros, para com os seus sucessos e conquistas.

3 - Tapas é auto-superação, é humildade e disciplina, é motivação para ultrapassar obstáculos do caminho a que nos propomos. Para a auto-superação é importante vencer barreiras internas, aceitar de coração aberto e com lealdade a mão do Mestre e as conquistas dos colegas.

4 - Swádhyáya é o auto-estudo, o debruçar sobre nós mesmos para uma observação consciente, auto-conhecimento. Procuramos perceber-nos para assim podermos comunicar de forma eficaz connosco próprios, para sermos também compassivos com as nossas diferentes dimensões. As pessoas que nos acompanham na nossa vida são de enorme importância para nos mostrar a diferença entre quem pensamos ser e quem realmente somos.

5- Ishwara Pranidhana é a auto-entrega. É a entrega ao absoluto, entrega à verdade, ao nosso serviço e ao serviço dos outros. É a entrega ao fluir da vida e deixar que o ego se transforme num diamante.

https://www.yogi.press/home/2017/9/12/the-yamas-and-niyamas


Hoje vamos ser felizes, outra vez, cada vez mais (se é possível!), com a nossa querida instrutora Marta Campos, que com o seu sorriso e alegria contagiante nos vai trazer a sexta-feira brilhante sobre isso mesmo: Alegria Sincera. Espero ver-vos lá. :)



Não posso deixar também de agradecer à nossa querida Mestre Zélia, ao Zé Paulo, e a todos os instrutores e alunos que nos têm trazido (e aos que ainda nos irão trazer) estas sextas-feiras brilhantes, pois têm sido momentos de enorme aprendizagem, partilha, companheirismo, amizade, amor e felicidade. 
Sinto-me também muito grata por ter a oportunidade de escrever estes breves resumos que me permitem dedicar-me de coração aos temas, e adorar cada um deles. Muito obrigada. <3
Agradeço também muito aos leitores, que dão sentido a tudo isto.


O que vos dizem os niyamas? Gostaram da bright friday da semana passada tanto como eu? Já estão ansiosos por sorrir com a instrutora Marta Campos logo à tarde? Deixem os vossos comentários. :) 


quinta-feira, 15 de abril de 2021

Thursday Challenge com Contentamento

Olá olá!

Bem-vindos a mais um Thursday Challenge!

Esta semana, à semelhança do desafio da semana passada, temos um challenge inspirado na Bright Friday! Desta vez foi apresentada pela nossa Graduada Cláudia Florêncio que nos apresentou de uma forma inspiradora e sentida os NYAMAS - prescrições de ordem ética que têm por base aquilo que devemos adotar, dando continuidade à temática dos YAMAS

No seu conjunto, as 10 normas de ética, constituem uma base fundamental de comportamentos para que possamos progredir e evoluir como seres humanos.

Nesse sentido, os Nyamas orientam-nos a sermos observadores de nós mesmos, o que por si só é já um grande desafio.

Esta semana, a proposta é concentrarmo-nos no Santôcha, no contentamento☀️

No contentamento interior, connosco e com o nosso presente, com o aqui e agora.

Encontrarmos e retirarmos contentamento de todas as situações que nos forem surgindo ao longo dos dias, aceitando também o descontentamento, que muitas vezes está lado a lado com o contentamento, e libertá-lo e acima de tudo apreciar com uma alegria sincera o momento presente, o caminho que estamos a percorrer.


Não sei quanto a vocês (e quero saber!), mas para mim constitui uma verdadeira auto-superação diária.

Contem-nos como vivenciam o Santôcha no dia-dia e o que têm feito que vos ajuda a evoluir!!


Tenham uma excelente semana!

Thursday Challenge by Ana Moutinho


quarta-feira, 14 de abril de 2021

WEDNESDAY MAGAZINE

Vamos falar sobre a Formação de Instrutores de SwáSthya Yôga?

Os exames de 2ª Época de Passagem de Grau estão à porta ⏳ and counting...

Dias 24 e 25 de Abril, a nossa agenda anuncia um fim-de-semana intenso para a Banca e Alunos que se propõem a exame 👩‍🎓 

Good to know... 👇




E... se somos uma Escola, qual é a nossa missão 🕮? 



















O SwáSthya Yôga é considerado o Yôga mais completo do Mundo! É Filosofia, é Cultura!

Foi codificado a partir do Yôga mais Antigo, pelo Mestre DeRose, com a MISSÃO de formar instrutores e perpetuar esta herança cultural da Humanidade, que hoje é PATRIMÓNIO MUNDIAL! 💖


📌 O que atrai magicamente os alunos a esta escolha de coração💖?
Quais os graus na Escala Evolutiva?

Esta foi a minha escolha de alma! Ser mais feliz dentro e fora da sala de prática, ir mais longe, desafiando-me de tal forma, que se tornou na minha prática de vida! Será uma profissão que é uma missão!
E, hoje, estou no caminho certo, naquele desafio constante e consciente de auto-conhecimento, com a imensa pretensão de fazer os outros felizes, mudando um pouco o mundo. Não estou sozinha! Tenho o privilégio impagável de ser acompanhada pelos meus colegas (que já são amigos), e pela Mestre e Guia do meu coração, a Professora Zélia! 


👉 Existem diferenças entre ser aluno e ser um discípulo. O aluno é aquele que se dirige à escola para aprender algumas práticas com o seu instrutor. Já o discípulo, é aquele que já alcançou um "patamar" acima. É um praticante avançado que assumiu o compromisso e aceita a interferência de um Mestre no seu universo comportamental.

👉 O aluno, então, poderá optar em progredir até se tornar num discípulo e enveredar à formação profissional, desde que seja aprovado nos testes que permitem a Passagem de Grau, conforme os requisitos expostos no livro: «Escala Evolutiva» do Mestre Sérgio Santos.



A Escala Evolutiva explica detalhadamente como se dá a organização hierárquica, quais os conhecimentos que devem ser memorizados para ascender de grau e os direitos e deveres daqueles que ocupam esse ou aquele lugar na escala hierárquica. Informa o que se espera do aluno e do instrutor em termos comportamentais. Contém normas e procedimentos de avaliação.

Os graus da Escala são oito* e o aluno pode levar em média doze anos para ascender do grau 1 de aspirante ao grau 8 de mestre. Simbolicamente, esse sistema de hierarquias é legitimado através do uso da insígnia (que contém a inscrição ÔM), sendo que cada indivíduo, de acordo com seu grau ou nível evolutivo na escala hierárquica, o utiliza de forma diferente. Além disso, essa insígnia, possui diversas cores referentes a cada grau, como símbolo distintivo. 


Os oito graus são respectivamente (SANTOS, 1999, p. 16)
1) aspirante (aluno que inicia a prática); 
2) sádhaka (upgrade do grau anterior conforme requisitos, e em sânscrito, significa praticante); 
3) yôgin (praticante de Yôga, aquele que aceita e adota na sua vida a proposta da nossa Filosofia); 
4) chêla (compromisso de se tornar discípulo); 
5) graduado (nível intermédio, de identificação plena com a Nossa Cultura, sendo que o aluno que o possui mantém uma relação bem próxima com sua escola, e com a egrégora como um todo)
6) assistente (grau de instrutor com Monitor; dedicação ao estudo profundo do Método, suas principais bases, bem como à prática)
7) docente (professor); 
8) mestre 

Nota: Os anos de estágio em determinado grau podem demorar mais ou menos tempo (em anos) a serem alcançados pelo praticante

 📌Quem nos confessa o ensejo em ingressar nesta maravilhosa profissão de Instrutor?

📌 E tu, o que te incentivou a seres aluno de Formação?

📌 O que esperas para te inscreveres como aluno, e quem sabe subir mais um grau, integrando o grupo de Formação de Instrutores?


A todos os que farão exame, não desejo de senso comum "boa sorte", porque o empenho, o estudo contínuo, e o amor à prática são hard work!

Lá estarei a apoiar-vos incondicionalmente! Unidos, em Yôga!
SwáSthya 💗

Yours,

Cláudia


terça-feira, 13 de abril de 2021

TUESDAY TUNES

Dia do Beijo


O Beijo (no original Der Kuss, em inglês The Kiss) a obra mais famosa do pintor simbolista austríaco Gustav Klimt (1862-1918)

Hoje celebra-se o dia do beijo, comum em várias sociedades, seja como forma de cumprimentar ou saudar uma pessoa ou de demonstrar amor e carinho por alguém.

Aproveito o dia de Tuesday Tunes para comemorar 🎵 e escrever umas palavras sobre o dia. Pois, se antes foi uma data que deixaria passar, como mais uma daquelas tantas que vejo marcadas nos calendários comemorativos e às quais não dou importância, desta vez deixou-me pensativa.

Este momento atípico que vivemos impede-nos de beijar quem mais gostamos. 

Sinto muita saudade de mostrar afecto aos meus e as comunicações digitais sabem a pouco. Por outro lado, e de uma forma divertida, apercebo-me de que tão depressa não voltarei a saudar alguém que não me seja tão próximo com aquelas duas beijocas do costume...!

Para celebrar o dia de hoje deixo-vos algumas músicas que remetem para dois momentos icónicos de Beijos no cinema:


 Clicar nas imagens para ouvir 👇










🎵As Time Goes By - Frank Sinatra (Casablanca)











🎵My Girl - The Temptations


🎥 Conhecem estes filmes?😊


Podem ouvir esta e outras musicas no Spotify da Escola Yôga 5 de outubro, para seguir o perfil basta clicar:



Muito em breve teremos oportunidade de colocar alguns beijos em dia e de estarmos juntos. Até lá, continuaremos a mostrar o nosso afeto de outras formas, sendo criativos, através de palavras, mensagens, emojis, fotografias de momentos, flores ou música. 

Nada disto substitui o toque, mas toca-nos de maneiras diferentes e, não sendo um beijo ou um abraço, é uma forma de aproximação, de elevar a outra pessoa e de envolver com afeto.

Em suma, o importante é não deixar que o momento atual nos iniba de continuar a demonstrar o nosso amor e carinho.

Verdade? 


Tenham um dia feliz!
Comentem...💁


Até terça,
Beijos,

Carlota

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Música e Filosofia


 
A Música tem sido tema de debate filosófico desde os gregos antigos até aos dias de hoje. Era uma parte importante da cultura grega antiga, desde cerimónias religiosas, poesia e teatro, até usos militares e educação. A música, para os filósofos gregos, fazia parte da sua metafísica; uma parte de como pensavam que o universo estava estruturado. Eles deixaram um registo substancial das suas ideias sobre música, muitas das quais ainda fazem parte da nossa cultura de hoje. Estes filósofos escreveram numa série de estilos, desde livros sobre as práticas de fazer e compreender a música (o que hoje chamamos de teoria da música), a livros sobre a natureza do universo e os efeitos da música (o que hoje chamamos de metafísica, ou apenas filosofia). Pensava-se que a música poderia afetar o ethos de uma pessoa (comportamento ou ética) porque era governada pelas mesmas leis que o universo e assim poderia influenciar outros reinos, tanto físicos como invisíveis.
 
Esta crença de que a Música pode influenciar o comportamento é primeiro apresentada por Platão na sua República, um tratado no qual ele descreve a maneira de criar um estado ideal. Neste importante tratado, Platão declara que o poder que a música tem para influenciar o comportamento de uma pessoa é tão forte que os líderes da república só devem ser autorizados a ouvir certos tipos de música, os quais aumentarão a sua coragem e honestidade. A música que pode perturbar a ordem social deve ser banida da república e a cada estrato da sociedade são permitidos diferentes tipos de música, a fim de encorajar certos aspetos do seu caráter. Para Platão, a música tinha o poder de despertar certos estados emocionais em humanos. Tinha esse poder porque a música em si era uma imitação dos sons que fazemos nesses estados emocionais.
 
Aristóteles, depois dele, tinha um conceito semelhante do poder musical para influenciar os nossos estados emocionais. Mas, para Aristóteles, era assim porque a música representava essas emoções em si mesmas, não apenas as maneiras pelas quais expressamos essas emoções. Uma pessoa ouviria música e o seu estado emocional alinhar-se-ia por simpatia com o da música.

À medida que a nossa compreensão do mundo e do lugar da música nele evoluiu, os argumentos filosóficos relativos à música também se transformaram. Ao longo da Idade Média, perdeu-se o foco filosófico e a Música era considerada apenas um meio para um fim, na ajuda ao louvor e adoração de Deus. Quando a música reapareceu como um tópico filosófico, no final do Renascimento, havia muitos conceitos semelhantes às filosofias gregas primitivas, menos o envolvimento estrutural no universo. A partir desse momento, uma grande revolução nos nossos pensamentos sobre o propósito e o funcionamento da música ocorreu a cada duzentos anos ou mais.

Durante a era barroca, acreditava-se que as emoções eram sentidas como resultado do movimento de certos espíritos no corpo. A música que correspondia aos movimentos dos espíritos para uma emoção particular poderia fazer com que os espíritos do ouvinte se movessem da mesma forma, fazendo com que essa emoção fosse sentida. Certos gestos melódicos ou traços rítmicos tornaram-se formas padrão de comunicar cada emoção. Acreditava-se que a música era uma ferramenta útil e ouvir o equilíbrio certo das emoções na música era pensado para manter a alma em equilíbrio e encorajar a saúde mental e física.

A expressão do estado emocional interior do artista só passou a ser o objetivo da música a partir do século XIX, com o Romantismo.
 
Com a publicação de Arthur Schopenhauer (1788-1860), «O mundo como vontade e ideia», a importância da música entre as artes mudou radicalmente. Schopenhauer postulou que o universo era, em última análise, uma Vontade. Ele considerava a música a arte proeminente porque poderia representar mais de perto essa Vontade. Ao fazer isso, pode, obviamente, representar outras coisas, como emoções humanas. Isto difere das conceções platónicas e barrocas anteriores de emoção na música, em que esta imitava essas emoções, enquanto para Schopenhauer ela representa essas emoções. Além disso, embora a música possa expressar as emoções das quais é representativa, ela não faz necessariamente com que o ouvinte sinta essas emoções.
 
As teorias de Schopenhauer fornecem suporte filosófico para uma tendência que já se estava a tornar bastante estabelecida na época da publicação do seu livro.
 
No final do século XIX, o escritor e crítico musical Eduard Hanslick (1825-1904) argumentou que o propósito da música não é fazer-nos sentir uma certa emoção e também não é seu propósito representar emoções. Para Hanslick, a música é o propósito da música, a sua forma é o seu conteúdo e não emoções. Para ser claro, Hanslick não descartou a possibilidade de que a música pudesse despertar certas emoções em certas pessoas, mas sentiu que tal ocorrência não era o propósito da música e muitas vezes poderia ser explicada como resultado de outras coisas.
 
Filosofar sobre música não parou por aí, é claro. Na verdade, em meados do século XX, o interesse pelo tópico ressurgiu consideravelmente. O tema atualmente é amplo, dada a explosão de géneros musicais e a facilidade com que a música existe no nosso quotidiano. Os filósofos ainda estão a tentar explicar a natureza do conteúdo emocional da música e de que maneira ele pode afetar-nos. As respostas que eles constroem podem ter um impacto considerável em como entendemos o significado da música nas nossas vidas, na verdade, em como entendemos a música.


Pela minha parte, como compositor e produtor musical, situo-me mais perto das ideias de Hanslick. Quando componho, não tenho como objetivo consciente exprimir esta ou aquela emoção, este ou aquele estado de alma. Vejo a música mais como uma envolvência, um estabelecer de paisagens sonoras que te enlevam e transportam através delas.

Deixo-vos aqui uma faixa do meu disco Nostalgia, como exemplo. De certeza que, a inspirar emoções no ouvinte, cada um as vivenciará de acordo com a sua personalidade, mas também com o seu passado, componente muito importante para se analisar o presente.





Como vês tu toda esta questão? O que é para ti a música e como te relacionas com ela? Deixa o teu sentir nos comentários. Obrigado.