A Nuvem da Praia Grande
Lá no céu, uma bela lua branca, quase transparente, animava a
tarde de inverno fazendo contraste com o azul-celeste e com a serra que
espreitava por detrás dela.
Com a sua cara redondinha sorria para a pequena nuvem que
andava feliz e contente mirando tudo à sua volta, porque queria conhecer o
mundo lá de baixo. Queria ver tudo e saber tudo!
Perguntou à lua:
- Dona Lua como é o mundo lá em baixo?
A lua não lhe respondeu, continuando a sorrir com a sua cara
redondinha de lua quase cheia.
A pequena nuvem disse-lhe adeus e ao olhar para baixo para a
praia, viu as pessoas a passear pela areia, as crianças a correr e a brincar
com os cães…
Pessoas nas esplanadas, aproveitavam o sol daquela tarde de
inverno e conversavam entre si, bebendo o seu café ou tomando um refresco.
Olhando mais além, a nuvem via os montes e vales que se
estendiam para além da praia e o seu pequeno coração ficava cada vez mais
feliz.
- Oh tão grande que é o mundo! – sussurrava baixinho para si,
enquanto sorria.
No seu caminho, empurrada pela brisa suave foi mais para
dentro do mar, afastando-se da costa.
Lá longe, uma família de golfinhos fazia piruetas no ar,
brincavam e conversavam entre si no seu jeito e linguagem próprias, que a
pequena nuvem achou muito engraçada.
A pequena nuvem desceu um pouco do céu aproximando-se deles e
eles ao verem-na deram mais uns saltos acrobáticos e gritaram para ela:
- Olá nuvem, olá nuvem és tão linda!
A pequena nuvem olhou para eles, sorriu e inspirando-se tomou a forma dos golfinhos.
"Uma criança que estava na praia, ao ver a nuvem branca e
cinzenta lá longe, gritou para a sua mãe:
- Olha mãe, olha mãe, uma nuvem-golfinho!
- É verdade, filho!
E o menino inspirando-se na nuvem, começou a brincar aos
golfinhos, fazendo piruetas na areia e dando risinhos que pareciam mesmo o
falar dos golfinhos.
A nuvem continuou o seu caminho, mas agora um bocadinho maior
e mais crescida.
Continuava a observar o mundo lá em baixo, aprendendo e
crescendo.
Um belo dia, reparou que outras nuvens, vindas dos confins do
mar, se aproximavam dela. Eram nuvens bem maiores do que ela e mais cinzentas.
Pensou:
- Oh, há aqui mais nuvens como eu. São todas diferentes, mas
são todas como eu! Que lindo!
Sorriu para elas e acenou-lhes com a sua cauda de golfinho.
As outras nuvens, fizeram o mesmo, cada uma com a sua forma, e sorriram.
-Olá – disseram – és uma nuvem-golfinho?
Ela olhou para as outras nuvens e disse:
- Não, eu sou apenas uma nuvem. Tomei esta forma, porque eu
não quero ser chuva.
Eu quero correr o mundo e os sete mares. Quero conhecer mais
animais e pessoas, quero ver as cidades e vilas e lugarejos. Quero subir ao
topo das montanhas, escorregar para os vales e voltar a subir. Eu quero ser
nuvem, não quero ser chuva.
As outras que já eram mais velhas e experientes do que ela,
olharam-na, sorriram e disseram com sabedoria:
- Fazes bem!!! Vai, vai conhecer o mundo, vai!
E, assim foi. A pequena nuvem-golfinho foi conhecer o mundo.
Ao percorrer o mundo ia tomando as formas das coisas com que
se identificava… Umas vezes era uma criança, outra um elefante, outra um
pinguim e, ainda outra, um pássaro que voava junto dela com as suas asas muito
abertas.
Ao tomar as suas formas percebia como era a vida e o sentir
de cada um deles e sentia que, ela própria, se transformava de uma outra
maneira cada vez que se identificava com os outros.
Um dia na vida de uma nuvem é muito tempo, pois ela consegue
dar a volta ao mundo e ver muitas coisas…
Passou bastante tempo, até que um dia, ela já mais cansada e
mais pesada, voltou a encontrar aquelas nuvens amigas dela. Sorriu-lhes,
acenou-lhes e elas disseram:
- Olha a nossa amiga nuvem que era golfinho! O que és agora?
Ela respondeu:
- Sou apenas uma nuvem igual a vocês, já corri o mundo, já
aprendi e já sei que a água da qual eu sou feita irá um dia voltar ao mar e aos
rios.
As amigas sorriram, acenaram e disseram:
- Porque não te juntas a nós?
E a nuvem que não queria ser chuva, devagarinho, devagarinho,
juntou-se às outras nuvens e todas juntas formaram uma bela Nuvem que chorou de
alegria e verteu as suas lágrimas sobre um grande campo onde depois brotaram
belas flores, árvores que deram os seus frutos e, por onde, passearam pessoas
felizes por terem aquela água abençoada a alimentar a Natureza.
A Nuvem que não queria ser chuva pousada na Mãe-Terra olhou
para o céu e viu um grande e belíssimo arco-íris a envolver os céus e a terra.
O Arco-Íris abraçou algumas gotas da água da chuva, levou-as
para o céu e uma pequenina nuvem branca, renasceu no horizonte! Uma pequena
nuvem que andava pelo céu a divagar… devagar, muito devagar…
FIM
Conto de @zeliadesousacs
Resolvi publicar o conto todo, porque alguns leitores podem não ter acompanhado a primeira parte publicada na semana passada.
Uma excelente semana para todos nós :)