quarta-feira, 20 de abril de 2022

Os limites do corpo e da mente





Todos os dias vivemos dentro de nós mesmos, apenas. Passeamos pela nossa mente, enclausurados no nosso corpo. Este corpo. 
Olhamos para fora, através dos nossos olhos, e esquecemo-nos de nos ver, esquecemo-nos de olhar para dentro.

O Yôga é um espelho. 

De repente, como nunca antes, deparamo-nos connosco próprios e estranhamos o que vemos, e o que sentimos, e o que pensamos. Estranhamos a nossa forma e o nosso feitio. 

Quem és? Quem sou? Sou isto. Tudo isto. E ao mesmo tempo, não sou nada disto. Sou tudo o que está contido aqui, e tudo o que me extravasa. 
O nosso corpo, que o tempo construiu desde que nascemos, é esta matéria-prima. Poderíamos ter sido diferentes? A vida é que nos moldou, e nós moldamo-nos a nós mesmos todos os dias, no hábito de sermos como acabámos por achar que somos.
O corpo que temos é o único que jamais teremos. Acompanhá-lo-emos em todas as suas dores, doenças, caprichos, limitações, esquecimentos, e devaneios, até ao fim. 

O corpo e a mente fazem um braço de ferro. Às vezes o corpo quer ir e a mente não permite. Outras vezes é a mente que se lança e o corpo fica ressentido. Magoam-se mutuamente numa luta constante.
O Yôga põe um fim à luta e traz-nos a paz. União, integração.

O nosso corpo começa a mexer-se, bem lentamente, e nós, surpreendidos, resistimos um pouco, meio desconfortáveis na nossa mente. 
Ele continua a mover-se, deixa-se ir. Avançamos, deixamos ir então. 
Ele dança, começa a dançar. E nós vamos. Que sensação boa é esta que nos percorre, dos pés à cabeça, que nos faz vibrar. 

A liberdade do movimento: a passagem, a transformação, metamorfose, suave, bela, inesperada. Somos a corrente do rio, somos o vento que canta. Somos o riso de quem se alegra, a lágrima de quem chora. Somos o cantar da primavera e o silêncio do inverno. Somos cor e somos sombra.
Ninguém está a ver. Nem nós mesmos. E, simplesmente, somos.
Derrubam-se os constrangimentos, caem por terra todas as construções e expectativas, com estrondo. 
Mas o estrondo é música, e continuamos a dançar. 
E nunca mais paramos.

4 comentários:

  1. Um artigo que nos faz pensar. Adorei! Obrigada Marta :)

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  2. Que bonito Marta. Obrigada pela partilha :)

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  3. Tão lindo este artigo! Muito obrigada Marta. Para ler e reler :)

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  4. Uau! Que diálogo este entre a mente e o corpo! Lindo, adorei. Obrigada Marta :-)

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